Imóveis de 200 m² destinados aos parlamentares começaram a ser restaurados em 2007, mas ainda há obras em andamento e um novo edital será lançado.
Wilson Pedrosa/Estadão
Banheira equipa todos os apartamentos funcionais reformados em Brasília
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BRASÍLIA - A
reforma dos 432 apartamentos funcionais destinados aos deputados
federais vai custar pelo menos R$ 280 milhões aos cofres públicos,
segundo estimativas da Câmara - o que equivale a R$ 650 mil para cada
imóvel. Até agora, a Casa gastou cerca de R$ 108 milhões com os nove
prédios que já passaram ou ainda estão sendo reformados.
Na
recauchutagem dos outros nove edifícios devem ser gastos mais R$ 172
milhões - valor que pode subir, porque será feito um novo edital de
licitação.
Só em banheira de hidromassagem os gastos devem atingir R$
1,5 milhão. Cerca de 90 deputados estão na lista de espera por um
apartamento.
Os
primeiros contratos de licitação para as reformas foram firmados em
2007.
De lá para cá, seis prédios - com 24 apartamentos cada um - foram
entregues depois de atrasos que, somados, extrapolaram em mais de três
anos a data prevista para conclusão das obras. Entre os motivos da
demora estão problemas com construtoras.
A
empreiteira Palma abandonou as obras no meio da execução, sendo
necessário fazer uma nova licitação. A Engefort foi à falência e deixou
um prédio quase pronto. Agora, a Câmara vai assumir os custos finais e
pretende colocar o prédio à disposição já no carnaval ou na Semana
Santa. As obras em outros três edifícios estão em fases menos
adiantadas, mas estima-se que estejam prontos até agosto.
‘Desperdício’.
O deputado Julio Delgado (PSB-MG), há dois anos na 4.ª Secretaria da
Mesa Diretora, é responsável, entre outros afazeres, por providenciar o
apartamento funcional ou verba de auxílio-moradia para todos os colegas
da Câmara, atender aos pedidos de reparos e acompanhar o andamento das
obras. Ele comemora as reformas.
Delgado
defende ainda que agora os imóveis, que pertencem todos à União, estão
mais valorizados. O cálculo é que valem hoje, em média, R$ 2,35 milhões
cada um.
“Quando
eu assumi essa função, fiz um levantamento e vi que apenas quase 200
deputados ocupavam os apartamentos funcionais e mais de 300 requisitavam
o auxílio-moradia de R$ 3 mil. Isso significa que éramos obrigados a
manter vigilância, limpeza e reparos em prédios em que moravam meia
dúzia de pessoas. Era um desperdício.” E continua: “Com a revitalização
dos prédios, tornamos os funcionais mais atrativos e invertemos esse
número: hoje, menos de 200 recebem o auxílio-moradia. E com lista de
espera”, afirma.
“Sei que
essa história da banheira de hidromassagem vai pegar mal, mas já estava
prevista nos editais de licitação muito antes de eu assumir a
Secretaria, então eu não tenho nada a ver com isso”, justifica Delgado.
Condenado
pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão, o deputado
Valdemar Costa Neto (PR-SP) já mora em um funcional novo em folha. Os
deputados João Paulo Cunha (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT), também
condenados pelo mensalão, moram em apartamentos antigos. José Genoino
(PT-SP), que era suplente e assumiu a cadeira após o julgamento, já
pediu seu auxílio-moradia.
Todas as
habitações, de 200 metros quadrados, seguem o mesmo padrão: uma
espaçosa sala de estar, que pode ser dividida em até três ambientes;
piso de cerâmica; quatro quartos, sendo dois com suíte; cinco banheiros
adornados com granito; cozinha planejada com dois ambientes.
Diferentemente
dos antigos apartamentos que possuem banheiras simples de cerâmica, as
novas moradias foram incrementadas com banheiras de hidromassagem.
Algumas delas podem ser controladas por uma tela digital, em que a
temperatura da água pode ser regulada, por exemplo. De acordo com o
edital de licitação da construtora PW, responsável pela restauração de
três blocos, cada um desses utensílios custou R$ 3.395.
Alguns parlamentares não gostaram do luxo e pediram autorização para retirar a banheira, com lugar para só uma pessoa.
Ar condicionado. Deputados
tentaram, no ano passado, pleitear com a 4.ª Secretaria a inclusão de
ar condicionado nas novas moradas. Mas como o benefício não estava
previsto no projeto feito em 2007, a Câmara oferece apenas o “acesso ao
ar condicionado”, ou seja, o buraco na parede.
“Quem quiser vai ter que tirar do próprio bolso”, disse Delgado.
Reforma dos 432 apartamentos funcionais
destinados aos deputados federais vai custar pelo menos R$ 280 milhões
aos cofres públicos, segundo estimativas da Câmara
Wilson Pedrosa/Estadão
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Algumas das banheiras podem ser controladas por uma tela digital, em que a temperatura da água pode ser regulada
Wilson Pedrosa/Estadão
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