Presidente, desde já peço a devida licença para dispensar a
formalidade do tratamento que o cargo que ocupa exige, mas tratá-la-ei
excepcionalmente por “você”, pois do contrário o texto não flui. Não
usarei o termo “querida” porque não lhe conheço pessoalmente, não tenho
intimidade para tanto e nem é esse o sentimento que nutro. O que não
significa que lhe odeie ou lhe queira mal. Saiba que desejo o bem até
mesmo aos inimigos, aos que me traíram, aos que me deram as costas.
Enfim, à turma do lado de lá. Apenas temos posições contrárias. Sem
contar que você manda e eu não obedeço.
Dilma, quando você foi pega de surpresa por um câncer linfático,
torci por sua recuperação. Creio que fui o único jornalista do “Partido
da Imprensa Golpista” (o termo é invenção dos jornalistas chapa-branca)
que lhe defendeu de ataques sórdidos de alguns setores da mídia. Uma
coisa é a figura política, a candidata, outra é o ser humano. Sei
exatamente o que passou, como também sei que não é fácil. Afinal, vivi
situação semelhante. Confesso que fiquei feliz por sua recuperação. Como
escreveu certa vez o genial João Guimarães Rosa, “o querer-bem não tem
beiradas”.
Dilma, você por certo deve pensar que o meu maior desejo é acordar,
sentar-me diante do computador e escrever contra o seu governo e o seu
partido. Enganou-se, porque não é esse o meu sonho de consumo. Sonho em
acordar todos os dias e ser obrigado a procurar algum assunto que sirva
de base para as minhas escritas, mas nem isso o PT me deixa fazer.
Acordo e encontro um amontoado de besteiras, muitas das quais têm levado
o Brasil ao atraso, ao descompasso, ao ridículo.
Como sofro de uma doença chamada coerência, que por sorte não tem
cura, sou obrigado a escrever aquilo que seus assessores não gostam e
possivelmente você também não. Paciência, ainda vivemos em uma
democracia, mesmo que de mentirinha, e enquanto o totalitarismo não
voltar a soprar por aqui exercerei o meu direito constitucional da livre
manifestação do pensamento. Sem ofensas ou rapapés, como fazem alguns
integrantes da tropa de choque do PT, que me atacam quando discordam das
minhas ácidas e contundentes críticas. Mas reconheça, Dilma, mesmo não
gostando do que escrevo, que de incoerência não sofro. Também não sou
esquizofrênico a ponto de ter escolhido você como inimiga para ter com
quem digladiar diariamente. Ainda estou são e com as faculdades mentais
sob controle.
Não ficaria contrariado se o dia rompesse e nada tivesse para
escrever sobre política, o meu tema predileto, o meu “ópio” redacional.
Isso significaria que o Brasil encontrou o rumo para ser o país do
futuro, cantilena que ouço há pelo menos cinco décadas. Ficaria
tranquilo pelos meus filhos, pelos meus futuros netos, pelo seu neto,
por todos os brasileiros de bem.
Com certeza temos ideologias antagônicas, mas saiba que não sou
injusto. Erro às vezes, afinal sou humano, diferentemente do seu
“companheiro” Lula, o semideus que jamais erra. Mas não tenho qualquer
dificuldade para reconhecer meus próprios erros. Sabe, Dilma, a vida me
ensinou que errar faz parte da receita do acerto, é o ponto de partida
para o ser humano evoluir, crescer, melhorar… Na verdade, Dilma, sou o
melhor produto dos meus próprios erros. Por isso vivo com a alma em paz.
Quem já enfrentou a mais temida das doenças, como nós, não pode ter a
alma e o coração em contínua ebulição. É preciso tranquilidade para
deixar a vida seguir. Pense nisso, pois ainda há tempo de mudar de ideia
e fazer algo por você e pelo Brasil, fugindo do script chicaneiro
deixado por Lula.
Dilma, qualquer um, em suas conquistas, quer acertar. Você, assim
como eu, também pensa assim. O problema é que você chegou ao principal
gabinete do Palácio do Planalto e encontrou sobre a escrivaninha um
roteiro de como deveria acertar. E seguir essa cartilha foi um erro
irreparável. Diferentemente daquele que lhe inventou eleitoralmente,
você não é uma pessoa de conhecimento obtuso, avessa à leitura e outros
quetais ligados à falta de intelectualidade. E por causa disso sabe
avaliar o estrago que o seu antecessor patrocinou ao País. Você já
provou da peçonha da herança maldita deixada por Lula.
Dilma, você teve nas mãos a chance que mais da metade da nação
gostaria de ter. A de colocar Lula e seus aloprados na cadeia,
terminando com o período mais corrupto da história nacional. Mas não,
você, emoldurada pela miopia ideológica, deixou-o solto e dando ordens, o
que é pior. Abusado e embriagado também pelas benesses que o poder
proporciona oficial e oficiosamente, Lula jamais se desvencilhou do
cargo. Levou o que quis do Palácio do Planalto, mas lá, no gabinete que
hoje você ocupa, deixou o desejo egoísta e tacanho de quem não quer
largar a mamata. Até o mais ortodoxo dos comunistas faria o mesmo. Hoje
Lula manda na prefeitura da mais importante cidade brasileira e quarta
maior do planeta: São Paulo. Algo que os paulistanos já esperavam. Você
pode até fingir desconhecimento, mas Lula é o co-presidente, como bem
lembrou o jornalista Augusto Nunes em recente artigo.
Lula é lobo em pele de cordeiro, Dilma. Chamou para si a articulação
política do seu governo, mesmo que não oficialmente, porque você é a sua
próxima vítima. Oferecerá ajuda, no melhor estilo salvador da pátria,
mas seu objetivo é derrubá-la. Mas vocês são vermelhos e por isso devem
se entender.
O que não pode, Dilma, é mentir ao povo brasileiro, como Lula fez
durante oito anos e você deu continuidade a essa utópica onda de
mitomania. Dilma, um dia alguém, sabe-se lá por qual motivo, inventou a
palavra planejamento, vernáculo que sua equipe insiste em ignorar. Não
foi preciso qualquer dose de genialidade para perceber que a aposta de
Lula no consumo interno, a partir de 2009, que teve o seu endosso, não
acabaria bem. Você, como ministra da Casa Civil, sabia disso, mas
silenciou diante do óbvio. Não bastasse, repetiu a receita, como se
fosse a solução mágica para uma economia que patina de forma vergonhosa.
Dilma, reserve alguns segundos antes de dormir e pense. Lula
administrou o Brasil como um dos botecos mequetrefes de porta de fábrica
que ele frequentou nos tempos de sindicalismo. Fez das esmolas sociais a
cachaça que levava a sua claque à inconsciência e o aplaudia como se
ele fosse uma reencarnação de Messias. Lula é um histriônico com
pinceladas de histeria que precisa estar em evidência o tempo todo. Para
isso é capaz de tudo e mais um pouco. E esse “mais um pouco” você deve
ver todos os dias sobre a sua escrivaninha. Uma vasta coleção de
problemas, escândalos, desmandos, imbróglios, etc.
Muito bem, Dilma, o Lula e você reduziram o IPI dos automóveis e o
Brasil se motorizou aos bolhões. As cidades foram invadidas por
enxurradas de carros novos, que passaram a disputar espaço com os já
existentes. Será que não deu tempo para pensar que essa nova frota
precisaria de combustível para se movimentar? Parece que não! E a
Petrobras, que vocês petistas disseram que seria privatizada pelos
tucanos, teve de importar gasolina e vendê-la no mercado interno a preço
subsidiado, acumulando prejuízos bilionários. Mas esse é um detalhe,
não é mesmo Dilma, porque a inflação que Lula deixou como herança não
poderia sair do controle. Se isso acontecesse, uma obra de ficção que
foi vendida como a verdade derradeira iria pelo ralo.
Você também sabia que a inadimplência cresceria e que o endividamento
das famílias atingiria níveis preocupantes. Mesmo assim, deixou a canoa
furada seguir viagem, pois o mais importante era incensar Lula e
garantir a sua eleição. Acreditando no messianismo de Lula, o povo saiu
tresloucadamente às compras e deu vazão ao reprimido desejo de consumo.
Pois bem, a reboque vieram os carnês e financiamentos e, em seguida, a
inadimplência.
Para camuflar a verdade, você ajudou a criar a nova
classe média, com 40 milhões de incautos que não tiveram qualquer
progresso na vida, mas hoje pelejam com os que cobram as prestações
atrasadas. Eis a receita milagrosa que você e os companheiros inventaram
e que deu a Lula inúmeros títulos de doutor honoris causa ao redor do
mundo. Fosse eu o reitor de uma dessas universidades, já teria ido a São
Bernardo do Campo para tomar-lhe a honraria.
Dilma, mesmo sabendo qual seria o conteúdo do seu discurso levado ao
ar na noite de quarta-feira (23), parei para ouvi-la. Até porque sabia
que você mais uma vez seria a minha fonte de inspiração. Você começou
falando “queridas brasileiras e queridos brasileiros”. Por razões óbvias
não me senti incluído nesse rol, pois não sou seu querido, como você
não é a minha. Romântico incorrigível que sou, guardo na alma, no
coração e no pensamento uma pessoa pra lá de queridíssima. Mas deixemos
os amores de lado e passemos ao que interessa.
Você convoca a rede nacional de rádio e televisão e, como se dissesse
a verdade máxima, afirma que a redução da tarifa de energia elétrica,
em vigor a partir desta quinta-feira, é um fato inédito na história
verde-loura. Vá lá, concordo com esse falso ineditismo, mas você bem
sabe que esse anúncio é um embuste desmedido. A redução da tarifa de
energia é resultado de uma compensação financeira que será paga às
geradoras, que em seus cofres colocarão dinheiro do contribuinte. Tudo
bem, a conta de luz do próximo mês virá com um valor mais baixo, mas o
nosso dinheiro, que deveria ser investido em outras áreas, será usado
para uma armadilha que você inventou e o PT exigiu. Não, Dilma, isso não
é justo. E mentir é pecado! Até travestir a verdade ou omiti-la é
aceitável, mas mentir…
Não contente, você disse “estamos ampliando o investimento na
infraestrutura, na educação e na saúde e nos aproximando do dia em que a
miséria estará superada no nosso Brasil”. Dilma, a infraestrutura do
País é conhecidamente caótica e os investimentos no setor acontecem na
velocidade de um jabuti. Falar em investimento na educação e na saúde é
abusar da galhofa. E imagino que, pelo seu semblante sempre carrancudo,
você não seja uma boa contadora de piadas e chistes. O pior ficou com o
trecho em que você abordou a erradicação da miséria. Dilma, não se pode
abordar esse assunto quando dois terços da população recebem menos de
dois salários mínimos por mês. E o salário mínimo, prezada Dilma, com a
sua preciosa ajuda vale hoje incríveis R$ 678. Não se preocupe, Dilma, o
aluguel de um barraco na favela custa R$ 400.
Toda prosa, lendo o que aparecia à sua frente, você falou que em
questões de energia elétrica “as perspectivas são as melhores
possíveis”. Quem acreditou nas suas palavras foi o dono do mercadinho ao
lado de casa, que reforçou o estoque de pilhas, lanternas, vela e
lampiões. Quem diz que a situação energética brasileira é preocupante
são seus assessores, não eu. Por isso considerei como abuso da sua
parte, para não falar em mentira, a afirmação de que não há “risco de
racionamento ou de qualquer tipo de estrangulamento no curto, no médio
ou no longo prazo”. No apagão de novembro de 2009 você, destilando raiva
de forma desmedida, disse a mesma coisa. E a profecia não vingou.
Lembra-se disso, Dilma?
Dilma, de forma transversa você cometeu o mesmo erro de Lula e tentou
empurrar o problema da energia elétrica que vivemos para os tucanos.
Você sabe que a culpa não é do FHC, como também sabe que o seu partido
não é uma reunião de herdeiros de Aladim. A história recente já mostrou,
e a Justiça comprovou, que a “companheirada” tem ideias luminosas
quando o assunto é corrupção. Veja o resultado do Mensalão do PT, o
pilar criminoso que sustentou a aprovação de Lula nas alturas.
Você, prezada Dilma, errou ao condenar os que fizeram previsões
realistas sobre a geração de energia no País no atual momento.
“Surpreende que, desde o mês passado, algumas pessoas, por precipitação,
desinformação ou algum outro motivo, tenham feito previsões sem
fundamento, quando os níveis dos reservatórios baixaram e as térmicas
foram normalmente acionadas”, disse você. Dilma, em sua fala você
encontrou espaço para afirmar que as previsões fracassaram. Não estou
convencido disso. A diferença entre eu, reles mortal que usa a lógica e
decifra os fatos do cotidiano como eles se apresentam, e você está em um
pequeno e enfadonho detalhe. Você tem à disposição um semideus
pernicioso chamado Lula, que consegue conversar com São Pedro e
descobrir na agenda celestial os dias que ocorrerão precipitações
pluviométricas, as tais das chuvas, aqui nessa república de bananas em
que se transformou o Brasil na última década. Dilma, adivinhar o que
acontecerá na natureza é excesso de soberba. Tome cuidado, pois o salto
alto costuma quebrar e Deus castiga, mesmo você não tendo qualquer
simpatia por Ele.
Para quase finalizar, Dilma, e aproveitando para encurtar esse
colóquio intimista, você abusa da mentira ao dizer que “o Brasil está
cada vez maior e imune a ser atingido por previsões alarmistas”. Dilma,
um país cuja economia cresce de maneira pífia nos últimos dois anos não
dá direito a quem quer que seja de falar em alarmismo. Deixe o
oportunismo rasteiro de lado. E você ainda emenda dizendo que “nos
últimos anos, o time vencedor tem sido o dos que têm fé e apostam no
Brasil. Por termos vencido o pessimismo e os pessimistas, estamos
vivendo um dos melhores momentos da nossa história”.
Dilma, o seu
governo só não ruiu e o PT não desapareceu porque a massa pensante da
população tem fé, muita fé, algo que não faz parte do seu cotidiano,
sempre recheado de inverdades, pirotecnias e silêncios obsequiosos.
Dilma, ponha a mão na consciência por um instante apenas. Será mesmo
que o Brasil vive um dos melhores momentos da sua história? A inflação
está fora de controle, os preços subiram muito além do que o governo
anuncia, as taxas de juro caíram a marteladas, o consumo está aquecido, a
inadimplência continua alta, o endividamento é preocupante, os
investimentos oficiais são pífios e a economia não decola. Essa é a sua
receita de melhor momento, Dilma? Se for, pare o Brasil agora que eu
quero descer, pular, me jogar, fazer qualquer coisa que me livre desse
enredo macabro que Lula e você insistem em escrever. O meu raciocínio é
deveras pequeno para alcançar a genialidade que une você a Lula.
Dilma, dificuldades todos passam. Pessoas, famílias, empresas,
nações, governantes, e por aí vai. Quando estou com pouco dinheiro – e
isso acontece com certa frequência porque integro o “Partido da Imprensa
Golpista” e não recebo milionárias verbas oficiais para mentir ao povo
-, conto a verdade aos meus filhos diante de eventual pedido que naquele
momento não cabe na minha carteira. Não me envergonho disso e sei que
eles se orgulham do pai que têm, não por causa do meu esforço contínuo e
das quireras que carrego no bolso, mas porque sou coerente e digo a
verdade. É por isso que consigo olhar nos olhos dos meus filhos, sem
qualquer constrangimento ou peso na consciência, pois sei que luto
diuturnamente por um Brasil melhor. E eles, os meus filhos, sabem disso.
Dilma, o seu neto, Gabriel, ainda é uma criança inocente, sequer
alcança o que acontece atualmente no Brasil. Quando acaba a luz em Porto
Alegre, o Gabriel nem imagina que a avó foi secretária estadual de
Minas e Energia. Ele há de crescer, tornar-se um homem inteligente,
informado e saberá da verdade. Os meus filhos – ainda não estou na fase
dos netos como você, mas espero chegar lá – terão o que contar no
futuro, depois do meu último suspiro (tem gente no PT que torce para que
isso aconteça logo). Por sorte não cheguei ao poder, pois seria um
vilipêndio à alma, à minha essência, aos meus valores e às minhas
crenças. Lá adiante, o Gabriel, seu neto, também terá o que contar. A
minha avó Dilma foi presidente da República. Na outra linha travessão.
Dilma, não queira entrar para a história pela porta do fundo, mas
busque estar em paz com sua consciência e deixar um punhado de razões
para o seu neto ter orgulho de você no futuro. Você já perdeu muito
tempo, mas ainda assim é possível recuperar.
Aqui me despeço, Dilma, sem mais delongas, mas se você continuar
insistindo no erro, até a próxima. E mesmo Nele você não crendo, peço a
Deus que a ilumine, pois apagões de fé, assim como os elétricos, são
normais.